segunda-feira, novembro 19, 2012

Capitalismo das Emoçoes

Estou no terceiro ano de filosofia na faculdade, e cada dia que passa a ideologia do ser humano me assusta mais. Neste semestre estou muito focada em Marx e em suas teorias do social. Acredito que se tivéssemos o livro Capital ao invés da Bíblia como o mais lido, certamente já estaríamos uns 400 anos mais evoluídos do que estamos atualmente.
O que quero escrever hoje é sobre o conceito que ele introduz nesse livro, e que depois é muito debatido e muito presente quando o assunto é a ideologia da minha geração: a reificação.

A reificação é a idéia de que todos estamos coisificados, ou que vivemos em uma sociedade onde o material tomou o lugar do social. As nossas relações, não só as sociais mas em todos os conceitos como os básicos de Amor e de Justiça, já não existem mais: deram lugar a um novo conceito de amor e de justiça, esse que consegue ser comprado ou materializado.

Eu mesma vejo isso desde quando nasci, quando meu avô dizia que temos duas chances de dar certo na vida, uma quando nascemos e outra quando casamos. O pulo do gato aqui é que esse "dar certo na vida" não é a chance de ser feliz, ou de amar, ou de viver bem, que são conceitos do social, mas ao invés, é a chance de ter capital, de ter dinheiro, de ter bens, de acumular tudo isso, e isso é o material. Dar certo é ter coisas.
Esse é um exemplo básico de como até o Amor virou algo comercial, quando você quer ter (o amor) não para a satisfação emotiva, mas para a satisfação fisica e meramente terrena, material.

Isso não é nada estranho para uma sociedade onde até Deus quer dinheiro. Óbvio. Para os não esclarecidos sobre as verdades do nosso mundo, Deus precisa de dinheiro. Então quem somos nós para achar que não precisamos?

O casamento para mim era algo que envolvia muito mais do que dinheiro e sexo, como atualmente. Eu acredito no amor, e acredito na felicidade, e acredito que nenhum dos dois envolvidos em uma relação amorosa dependem do acúmulo de capital para serem felizes.

Mas em um lugar onde você só pode transar ou ficar pelada na frente do namorado se este estiver pagando suas contas ou se este estiver com intenções de unir bens, para mim isso é prostituição e não amor. É por isso que o amor tem uma idéia reificada (usando o termo filosófico), visto que o Amor não é mais tido ou sentido como algo “fora” do mundo material.

A Justiça é outro excelente exemplo disso. Atualmente, com todos esses acontecimentos dos Kaiowa, no Brasil; da Palestina; das reservas ambientais que viram resort e, principalmente, dos presídios, é mais claro do que nunca que a Justiça também se rendeu ao materialismo. Uma amiga postou no Facebook essa semana um gráfico que mostra as prisões e as divisões raciais, mostrando que o número de negros e latinos presos aqui nos Estados Unidos é exorbitantemente maior do que os de brancos. Vocês acham que isso acontece por quê? Porque os brancos são bem mais educados e não cometem crimes como os mal educados negros e latinos? Óbvio que não! O que acontece é que a Justiça se tornou um comércio: quem tem mais dinheiro não é preso e quem não tem é melhor que fique lá dentro.

Não existe mais o senso social, somente o senso material, onde o que importa é quem paga mais e não quem tem mais razão ou ética. É o triunfo do capital.

Esses são apenas dois exemplos dos milhares de reificados que temos atualmente. Dois que eu sinto na pele e que me assustam. Mas tudo se enquadra dentro da ideologia reificada que temos hoje sem nem sabermos de onde ela vem. Nós vamos só seguindo as ovelhas como se tudo fosse normal e natural, sendo que o capital não deveria estar relacionado a nenhum dos dois termos.